Casa de Camilo

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco
"desenhos do rui" clicar na imagem

Seide Saúda-vos!

28 de dezembro de 2010

O Demónio do Ouro

Tem-se discutido se é a qualificação de romance ou a de novelista que mais convém a Camilo. Sem pretendermos reatar aqui tal discussão, que evidentemente parte de uma distinção entre romance e novela, aceitável parece que o grande escritor haja possuído o génio sintético, directo e de certo modo linear do novelista. Sendo, porém, o romance um género volúvel e multiforme, - coisa a que nem sempre atendemos quando definimos romance sobretudo pelos grandes romances europeus do século XIX - igualmente se nos afigura devermos reconhecer que várias produções ficcionistas de Camilo merecem o nome de romances. O Demónio do Ouro é uma delas. E é o que se pode chamar um folhetim...
...
Provavelmente não é um dos melhores livros de Camilo, como em parte já no-lo podem fazer suspeitar as propriedades que lhe apontámos: As suas obras primas são, no geral, mais simples, menos intrincadas, avançando mais rectamente para o desfecho trágico... ou feliz. 
...
A presença de Camilo em O Demónio do Ouro como em tantos outros dos seus romances e novelas, eis portanto, por um lado, a razão de certos desequilíbrios de tais obras. E por outro lado se torna essa presença um dos seus encantos, - uma aliciante companhia: Não é a dum comentador excelente, dum poeta conhecedor da comédia humana, dum subtil humorista às vezes, dum ironista muito pessoal, dum violento zombador a quem não fica alheio o chamado humor negro? Sendo uma espécie de suma das características do autor, (onde o fascínio dum grande amor infeliz, tão do seu gosto, não pôde entrar) certamente permanece. O Demónio do Ouro - e até nos excessos! - uma das suas grandes obras representativas.

José Régio (Nota Preliminar in "O Demónio do Ouro" - 6ª edição, 1970)

Um romance em dois volumes.

Começa assim:

O Demónio do Ouro - I

«João Veríssimo Vieira, mestre de primeiras letras na vila da Póvoa de Lanhoso, em 1750, era homem de bem, e suficientemente entendido no seu magistério. Tinha estudado para padre, e prometia então, com o porte exemplar da sua mocidade, vir a ser modelo de clérigos; mas, aos vinte e um anos, quando já revestia sobrepeliz e garganteava salmos nos mortuórios, viu em hora esquerda uma pobre quanto esbelta moça de olhos tão feiticeiros que não houve mais delinçar-se dela.»

 E termina assim o primeiro volume: XXXIII

«Meu filho, o anjo do infortúnio faz muito menos vítimas que o demónio do ouro.»


Foto da autora deste blogue.

17 de dezembro de 2010

Caricaturas... escritores portugueses

Blogue:


Imaginemos estes grandes homens das letras conversando... "Como vai este país?"






José Saramago e Ary dos Santos proclamam que o soneto de José Régio é o que mais define a situação actual:

Soneto quase inédito



Surge Janeiro frio e pardacento,

Descem da serra os lobos ao povoado;

Assentam-se os fantoches em São Bento

E o Decreto da fome é publicado.



Edita-se a novela do Orçamento;

Cresce a miséria ao povo amordaçado;

Mas os biltres do novo parlamento

Usufruem seis contos de ordenado.



E enquanto à fome o povo se estiola,

Certo santo pupilo de Loyola,

Mistura de judeu e de vilão,



Também faz o pequeno "sacrifício"

De trinta contos - só! - por seu ofício

Receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO - Soneto escrito em 1969



Retiradas as caricaturas daqui:
http://desenhosdorui.blogs.sapo.pt/tag/caricaturas


4 de dezembro de 2010

O Espírito das Noites de Insónia...

Foto da autora deste blogue.


Falar da vida depois da morte e, mais propriamente, de Camilo Castelo Branco visto pela óptica do “Além”, pode ter a função do “desassombramento” da sua alma, do levantar do véu das sombras que sempre pairaram sobre a sua pessoa. O suicídio é tabu, não é aceite pelo mundo religioso cristão, é a rejeição do ser que não aceitou a vida, ainda que este tenha sido levado a um extremo de sofrimento e intolerância do viver.
 “Memórias de um suicida”, o livro de doutrina espírita que pretende elucidar sobre os padecimentos após o suicídio e que não acabam na morte física, nem no desaparecimento de sensações do espírito e da alma, mas na continuação de um sentir ainda mais amplo das dores e de um padecimento mais atroz. Assim trata o livro, de um trajecto que vai desde o mergulho na mais profunda dor e escuridão, passando pelo lento tratamento de reedificação da alma despedaçada, até à redenção e auto-perdão, culminando na reencarnação seguinte, para expiação.
 Mas, Camilo Castelo Branco visto nesta perspectiva gera sérias dúvidas, pois trata-se de uma figura pública, bem conhecida do mundo literário, do mundo racional, culturalmente céptico em relação a estes assuntos espirituais do além. Será que foi mesmo Camilo que ditou estas mensagens de vida depois da morte, traduzidas por uma médium espírita?

Por este motivo se reuniram os leitores de Camilo, na Casa de Seide, onde a proximidade de espaço com o escritor, o panorama  do últimos momentos ali vividos, nos deixou reflectir e aprofundar um pouco mais o assunto de vida após a morte. Um tema de todo polémico, pois traz novidades de pensamentos, reacções de rejeição/aceitação a fenómenos conhecidos entre nós de paranormais -  apesar de o único som “estranho” ter sido o bater das horas do relógio da casa, que, Camilo, certamente se fartou de ouvir em longas noites de insónia
O professor Sérgio, que preside às reuniões, fez-se acompanhar de livros de autores estrangeiros que relatam testemunhos de mortes clínicas,  descrevendo sensações depois do abandono do corpo físico. Alguns dos presentes também se atreveram a contar certos episódios quotidianos mais ou menos “estranhos” à normalidade do  entendimento humano. Convidado, foi também, um senhor praticante da doutrina espírita, conhecedor de fenómenos que, segundo ele, são “normais” e não “paranormais”, como vulgarmente são chamados, por fazerem parte ainda do desconhecimento humano. E no meio de tão animada discussão, o relógio voltou a bater as horas: meia-noite, hora de deixar os espíritos em paz!

Foi o finalizar da última noite de Novembro 2010, uma noite gélida e chuvosa, só aquecida pelo calor humano de um grupo de 18 participantes,  que a despeito do mau tempo, de cadeira debaixo do braço fez a travessia do Centro de Estudos Camilianos, onde antes houvera um “jantar-bufet”, até ao último andar da Casa de Camilo, ocupando quase todo o espaço do escritório onde o escritor passara as suas noites assombradas, certamente ouvindo o vento a uivar e sentindo a pena que lhe corria leve pelo dedos… talvez carregada de pensamentos tenebrosos que o teriam levado ao suicídio.

Mas a nossa noite não acabou tenebrosa, ainda que, a despedida do professor Sérgio, desta temporada camiliana, tenha sido verdadeiro motivo de desolação geral, mas os apelos à sua futura “reencarnação”, neste mesmo espaço, foram veementes, convictos que estamos que a sua presença se fará sentir fisicamente, preenchendo a nossa tertúlia com os seus habituais acessos espirituosos, predispondo o grupo para uma maior aproximação entre si e ao espírito das grandiosas obras camilianas.
O mais sincero agradecimento a ambos!

Lucília Ramos

As fotos dos momentos vividos em 30 de Novembro de 2010:


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Casa de Camilo - Noites de Insónia

«As “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras, escolhidas previamente. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais activa e partilhada da obra do romancista de Seide.» http://camilocastelobranco.org/index2.php?co=569&tp=6&cop=260&LG=0&mop=604&it=evento_lst Coordenadores: 2009 - Professor Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Braga 2010 - Professor Sérgio Guimarães de Sousa - Universidade do Minho 2011 - Prof. João Paulo Braga

Encontros 2012 - Professor Sérgio

15 Fevereiro - "Memórias do Cárcere" - Discurso Preliminar
7 Março - "Memórias do Cárcere" - Do I capítulo ao V

Encontros 2011 - Professor Paulo

2011 "A Viúva do Enforcado" - 16 de Novembro - 21:30 "A Filha do Arcediago" - 19 de Outubro - 21:30 "As Aventuras de Basílio Enxertado" - 21 de Setembro - 21:30 "Maria Moisés" - 9 de Julho - 21:30 "O Cego de Landim" - 15 de Junho - 21:30 "O Retrato de Ricardina" - 4 de Maio - 21:30 "A Corja" - 6 de Abril - 21:30 "Eusébio Macário" - 9 de Março - 21:30 "A Sereia" - 9 de Fevereiro - 21:30

Encontros 2010 - Professor Sérgio

"Memórias de um suicida" - 30 de Novembro - 20h "O que fazem Mulheres" - 6 de Outubro - 21:30h "O Amor de Perdição" - 16 Junho - 20h "O Senhor do Paço de Ninães" - 21 Abril - 21h30 "Anátema" - 24 Março - 21h30 "A Bruxa de Monte Córdova" - 24 Fevereiro - 21h30 "A Queda dum Anjo" - 20 Janeiro - 21h30

Encontros 2009 - Professor Cândido

"Estrelas Propícias" - 11 Novembro - 20h "A Brasileira de Prazins" - 21 Outubro - 21h00 "Novelas do Minho" - 16 Setembro - 21h30 "Coração, Cabeça e Estômago" - 17 Junho - 21h30 "Vinte horas de Liteira" - 22 Maio - 21h30 "Memórias do Cárcere" - 30 Abril - 21h30