Casa de Camilo

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco
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Seide Saúda-vos!

17 de maio de 2011

Trilho da Cangosta do Estevão - em Noite de Museus


Uma noite quente, convidativa à caminhada... 4 autocarros carregados de gente a ser levada da Casa de Camilo a Landim, junto do Mosteiro. Em noite de celebração de Museus, esta caminhada pelos trilhos de Camilo é imprescindível!

De Landim até novamente a S. Miguel de Seide lá seguiu a romaria... desta feita, a pé.

Mas que apetites ou que ventos trouxeram tanta gente a percorrer o trilho da Cangosta do Estevão, este ano?

Os aromas de Camilo foram se espalhando com as pequenas teatralizações de passagens de seus romances. As gentes chegavam-se à frente, esticando o pescoço para ouvir melhor... mas faltava o megafone dos homens da luta! Ainda que não ouvissem, o ambiente era tão bom que só o prazer da caminhada levava novos e mais velhos a seguirem na procissão. Não foi de velas, mas não faltaram candeias e lanternas...

E o Camilo (o mais bonito Camilo de sempre: o Reinaldo) - emprestando, encarnando, enroupando - vestia o papel principal, cofiando o bigode ao correr do trilho, já sabendo de cor todas as suas e as demais falas, avivando a noite da memória daquele que é um escritor meio esquecido, para não falar 'lido'.

E nesta noite de festa, outras estrelas brilharam e encantaram... foi uma rusga de dança, de cantoria e de animação.

E chegados a "Casa" - à dos estudos camilianos, hei-los estudando a melhor maneira de dar a palitada nos rojões, arrastados pela forte ventania, fizeram voar em pouco minutos, rojões e caldo-verde, empurrando-os pela garganta sequiosa com um caneco de "binho berde". A gente do Minho é assim! Descendentes do Zé do Telhado não deixam por mãos alheias a luta que podem travar os próprios.

A Casa de Camilo, Grutaca – Grupo de Teatro Amador Camiliano, Grucamo, a Rusga de Joane, os grandes impulsionadores, organizadores e animadores desta magnífica actividade.
Parabéns a todos pela sua total dedicação e disponibilidade.

A toda aquela gente que compareceu em massa, o meu aplauso, porque acima do esforço de um caminhar 'por maus caminhos' - e nisto o louvor ao grupo de caminheiros da GRUCAMO, que sempre a abrir os braços nos foram protegendo as bordas e alumiando os passos - não desanimaram e até cantaram.

- Que grande Corja! - diria o Abade Justino, muito ciumento desta trupe de gente.
Mas não adiantou mais... foi logo vareado de raspão, esse mulherengo sem ideal, «estômago com algum latim e muitas féculas»*.
Pensava ele que ainda estávamos no tempo dos Cabrais...!

* - Dos Romances "Eusébio Macário" e "A Corja", de Camilo Castelo Branco.


5 de maio de 2011

O RETRATO DE RICARDINA E A FREGUESIA DE ESPINHO


Considerado por muitos estudiosos da Literatura Portuguesa e da Obra de Camilo Castelo Branco como exemplar tipificação da novela camiliana a acção de O Retrato de Ricardina decorre na Freguesia de Espinho, no Concelho de Mangualde.

Num pequeno preâmbulo intitulado A QUEM LER afirma o Autor.

" Esta novela parece querer demonstrar que sucedem casos incríveis.

O autor conheceu alguns personagens e soube como se passaram as coisas aqui referidas.

Pois, assim mesmo, tão incongruentes lhe pareceram que ficou longo tempo indeciso se lhe seria melhor inventá-las para saírem mais verosímeis do que as verdadeiras.

A consciência gritou-lhe quando o romance estava já urdido e enredado com outro feitio.

Venceu a verdade, onde já agora, e tão somente lhe é permitido vencer:- nas novelas."

Parece, no entanto, pese embora a força do imaginário popular, - que, também esse, se vai perdendo nas gerações mais novas - que nem nas novelas a verdade triunfa. Com efeito, um estudo feito sobre o tema pelo Ex.mo Sr. Dr. Alexandre Alves demonstra que as personagens da novela não coincidem com as pessoas e a serenidade da vida na Freguesia de Espinho no período em que decorre a acção. Segundo as conclusões daquele conceituado investigador, na época em que decorre a trama da novela, era pároco de Espinho o Padre Caetano Brito e Faro, natural de Lobelhe do Mato, onde ainda hoje os seus familiares residem numa bonita casa beirã de bela traça. O Padre Caetano viveu largos anos na residência paroquial de Espinho com alguns familiares que se encontram sepultados na referida Abadia.

Resumidamente O Retrato de Ricardina relata os amores de Ricardina Pimentel e de Bernardo Moniz.

Ricardina filha do Abade de Espinho Leonardo Botelho de Queirós, - homem poderoso e influente, miguelista ferrenho, truculento e vingativo - e de Clementina Pimentel senhora de família fidalga da região que o abade raptou e com quem passou a viver na residência paroquial. Desta relação nasceram duas meninas : Eugénia e Ricardina. Era, a heroina da novela, " alva, olhos cismadores e estáticos, compleição linfática, estatura mediana, ar melancólico e pudico, um certo quebranto... "

Bernardo, liberal entusiasta, residente na povoação de Espinho, filho da família humilde de Silvestre da Fonte mas, subitamente endinheirada com a herança deixada por um tio rico emigrado no Brasil. Pastorzito, aprendiz de pintor e, depois da herança do tio brasileiro, estudante de leis em Coimbra, Bernardo e Ricardina apaixonaram-se mais com os olhos do que com troca de palavras. Recusando, por amor a Bernardo, casar com seu primo Carlos Pimentel Ricardina é, por exigência de seu pai, encerrada com a mãe, que decidira acompanhá-la, no Convento das Chagas em Lamego, de onde foge, com Bernardo, após a morte de D. Clementina. São felizes algum tempo mas, o regresso de D. Miguel e o envolvimento, embora contrariado, de Bernardo no episódio do assassinato em Condeixa dos Lentes e Cónegos de Coimbra que se dirigiam a Lisboa para o felicitar lançou de novo a infelicidade sobre os apaixonados. Refugiados na casa de Espinho, procurando reunir os haveres para fugirem, a casa é assaltada pelos homens do Abade constituindo este capítulo XV uma das mais belas partes da novela.

Convencidos da morte um do outro, por uma interpretação errada de Norberto Calvo, (criado de confiança do Abade mas que, por dedicação a Ricardina, se transforma no anjo da guarda dos apaixonados) Bernardo Moniz, emigra para África na companhia do fiel Norberto Calvo onde permanece durante largos anos, Por seu lado, Ricardina acaba por ir para o Brasil na companhia de uma bondosa senhora, D. Ifigénia, que a acolhe e de quem vai receber os bens que lhe permitirão regressar a Portugal e dar em Coimbra a formatura académica a Alexandre filho dos seus amores com Bernardo.

Por malhas que a Fortuna tece, Alexandre e Ricardina conhecem Matilde Pimentel, filha de Eugénia e de Luís Pimentel, viúva rica pelo casamento forçado a que seu pai a obrigara a contrair com o Visconde de Gandarela. E aqui se começa a construir o final feliz da novela. Matilde traz para sua casa a tia e o primo por quem se apaixona e com quem acaba por casar. Por necessidade do seu trabalho profissional Alexandre põe um anuncio no jornal pedindo colaborador e a ele responde Paulo de Campos regressado de África por motivo de doença causada pelo clima africano. Começam a trabalhar e a amizade surge. Certo dia, Paulo não comparece ao trabalho por motivo de doença e Alexandre vai visitá-lo. Tratando o amigo, descobre-lhe sobre o peito um belo retrato de mulher e, comovido com tal exemplo de fidelidade amorosa, pede-lho emprestado para o mostrar a Matilde e à mãe. No meio de grande comoção esta reconhece, naquele retrato de mulher, O Retrato de Ricardina que Bernardo Moniz pintara em Coimbra. A partir deste momento a felicidade brota a jorros. Paulo de Campos aliás, Bernardo Moniz, vai ao encontro de Ricardina com quem casa no oratório doméstico do solar .

E tudo seria felicidade se a novela não concluísse com a morte chorada, aos 82 anos, de Norberto Calvo o fiel companheiro de tanto sofrimento e felicidade. Porque, como conclui a novela. "só não choram os que morrem...".



SUGESTÕES DE VISITA AO PATRIMÓNIO DO IMAGINÁRIO POPULAR

ESPINHO – Casa de Silvestre da Fonte – Fica situada no interior da povoação entre a Capela e o entroncamento para a Póvoa de Espinho – onde se ergue bonito fontanário - na estrada que liga Água Levada à Cunha Baixa. (E.M. 1438 e1439)


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Trata-se de uma casa de pedra antiga aparelhada particularmente notável na esquina que dá para a estrada. Uma das pedras apresenta uma decoração geométrica lisa em forma de escudo sem armas.. A casa é hoje pertença de dois proprietários que, tendo feito obras interiores, mantiveram a traça exterior do edifício. Um possui a parte da esquina que inclui a escada, com o corrimão adulterado por floreiras de cimento, e encimada pelo característico alpendre com decoração interior em forma de estrela.
A fachada que se orienta no sentido Oeste-Leste é a mais interessante apresentando janelas de recorte manuelino embora a fachada do segundo proprietário, a correr para Leste, seja da pedra desigual.


ABADIA DE ESPINHO – Igreja e Residência Paroquial – Está situada junto à estrada que de Moimenta do Dão se dirige a Outeiro de Espinho atravessando Gandufe (E.M. 594). Era no século passado um vasto complexo constituído pela Igreja, Residência do Abade, antigamente ligada ao edifício da Igreja, e por todo um conjunto de divisões relacionadas com a actividade agrícola das propriedades da Paróquia.

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Na década de 1950 a Igreja sofreu obras que, com intuitos de modernização e vantagens pastorais, lhe retirou a traça que lhe era própria pelo menos desde as obras realizadas nos séculos XVII-XVIII. Acrescentou-se o alpendre à fachada principal e retirou-se o retábulo de talha dourada que foi guardado pelo Pároco de então. Foi preservada uma porta gótica que ainda se conserva. Por iniciativa do actual Pároco a Igreja sofreu recentemente novas obras tendo a talha sido restaurada e recolocada na capela-mor que foi igualmente reestruturada.

As pessoas de mais idade recordam ainda vestígios da passada riqueza da residência paroquial como galerias de talha dourada e preciosos cortinados. Possuía, ainda, um magnífico terraço com guardas formadas por grossas pedras alternando bancos e floreiras dando para a estrada e do qual se avistava um magnífico panorama sobre todo o vale onde corre o Rio Videira ou de S. Pedro.

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Fonte de Ricardina – Fica situada no antigo Passal da Abadia, frente à Igreja, e que foi vendido a particulares por força da legislação da 1ª República. No romance são- -lhe feitas duas referências no capítulo III:
"Chamou Clementina a filha. A menina alvoroçou-se e, apenas pôde dizer:

Procura amanhã ao meio-dia debaixo do vaso de mármore por cima da fonte, sim?": (...)

"Às onze, desceu ao jardim e depositou a carta, a ocultas da irmã, debaixo do vaso sobreposto à fonte.
Por volta do meio-dia, Norberto recolheu a carta e foi à hora da sesta pedir , no dia seguinte, a levasse ao correio de Viseu."
O acesso à fonte faz-se por um portão, junto ao qual, inserida no muro que veda a propriedade, existe um chafariz de traça joanina. No interior, um tanque de razoáveis dimensões recolhia os excedentes de água.

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No terreno que lhe fica superior existem ensombrados por vetustas árvores uma mesa e bancos de pedra

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A fonte fica situada num recôncavo de terreno acessível por uma escada de pedra.

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Casa de Camilo - Noites de Insónia

«As “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras, escolhidas previamente. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais activa e partilhada da obra do romancista de Seide.» http://camilocastelobranco.org/index2.php?co=569&tp=6&cop=260&LG=0&mop=604&it=evento_lst Coordenadores: 2009 - Professor Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Braga 2010 - Professor Sérgio Guimarães de Sousa - Universidade do Minho 2011 - Prof. João Paulo Braga

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